quarta-feira, 15 de junho de 2011

A Noite Virou Dia ~ Chapter 3

Vanessa e Gary tomaram o primeiro ônibus que viram passar. Não sabiam pra onde ir, qualquer lugar servia. Eles desceram e deram uma olhada à sua volta.
- Conhece? -Vanessa perguntou.
- Não. -Gary disse e eles riram. - Mas quem se importa?
- Ninguém! -Vanessa exclamoum e eles foram andando. Até que pararam na frente de um supermercado qualquer. - Mas vamos entrar aqui antes e vamos comprar alguma coisa pra comer. Nós passamos horas naquele ônibus, eu preciso comer alguma coisa.
- Concordo. -eles entraram lá e foram direto para a seção de chocolates. - Vamos comer ou beliscar?
- Talvez beliscar. Ah, faz tanto tempo que eu não como chocolate! -ela choramingou. Gary pegou uma mão de chocolate e Vanessa pegou outra.
- Nós temos dinheiro pra isso? -ele perguntou desconfiado.
- Juntei minha vida inteira, temos que ter. -Vanessa respondeu. Era verdade, todo o dinheiro que ela pegava, guardava.
- Também guardei. -eles foram pagar e olharam que havia escurecido. - Xi, a gente vai passar a noite na rua.
Vanessa fez um barulho estranho com a boca e voltou para as prateleiras.
- Vamos comprar mais. Vamos comprar... Hum... Vamos comprar... -ela falava, mas foi interrompida por um barulho imenso de latas caindo no chão. Eles se viraram assustados e viram uma mulher bem jovem abaixada, tentando pegar todas as latas e profanando diversas coisas para elas. Gary olhou para Vanessa e foi até lá, ajudar.
- Tudo bem moça? -ele perguntou pegando as latas junto com ela. Vanessa se abaixou e começou a catar também.
- Está, está sim! Eu que sou desastrada. -a mulher dizia. Vanessa olhou pra Gary e ele voltou a olhar para a mulher.
- A senhora é daqui? -ele perguntou. Eles levantaram e a mulher balançou a cabeça afirmativamente.
- Sim, sou. Por quê, vocês não? -ela perguntou.
- Não. Não somos. -ele riu. - A senhora sabe alguma pensão?
Ela os olhou horrorizada.
- Quantos anos vocês têm? -perguntou.
- Dezessete. -eles disseram ao mesmo tempo.
- E não têm pra onde ir? Foram as drogas? -ela perguntava ainda horrorizada. Vanessa e Gary riram.
- Não. Não tem nada a ver com drogas. -ele respondeu. - Tem a ver com a nossa vida.
A mulher ficava cada vez mais confusa
- Vocês são órfãos? -ela chutou. Vanessa e Gary se entreolharam novamente.
- Isso. -ela respondeu. - Somos.
- Oh meu Deus. -a mulher pôs as mãos na boca como se aquilo fosse o fim do mundo. - Vocês são tão jovens... E o que vocês fazem aqui?
- Nós acabamos de sair do nosso lar, a gente queria um lugar pra pelo menos passar a noite. A senhora sabe algum? -Gary perguntou. A mulher abanou o ar.
- Sou April. E sou muito nova pra ser chamada de senhora. -ela estendeu a mão e Gary apertou, seguido de Vanessa. - E vocês são...?
- Garetth. Mas as pessoas me chamam de Gary. -ele disse.
- Vanessa. -a garota disse.
- Vocês querem tomar um café comigo? Logo em frente tem um pub que eu adoro! -ela disse e eles concordaram, indo com ela até o pub.
Eles sentaram e April deu mais uma olhada neles. Eram garotos apresentáveis, estavam bem vestidos e tinham os cabelos arrumados.
- Então, vocês são irmãos? -ela perguntou.
- Não. Mas crescemos juntos então, pode-se dizer que sim. -Gary respondeu.
- E o que vocês estão fazendo aqui na cidade?
- É uma longa história... -Vanessa disse. April sorriu.
- Pode contar, eu tenho a noite livre. -ela disse. Gary suspirou e começou:
- Nós podemos dizer que não temos história. A gente cresceu naquele lugar sem saber quem era a nossa família... -ele dizia.
- Mas espera aí, vocês não tinham nenhuma noção de família? -April interrompeu.
- Bem, a servente mais antiga do lar me disse que eu fui registrado apenas com uma mãe. Ela que me deu o sobrenome. -Gary respondeu.
- Você a conheceu?
- Não. -Gary abaixou a cabeça.
- Ah... E você? -a mulher perguntou a Vanessa.
- Hum... Eu fui deixada lá bem pequena mesmo. Segundo a tia Marie, que é a servente mais velha, eu tinha uns dois meses. Mas no meu registro constam mãe e pai. -ela respondeu. - Porém... Segunda a mesma Marie, quem me deixou lá foi uma senhora, assim, bem velhinha... E ela não soube dizer sobre meus pais.
- Você não tem curiosidade de saber quem eles são? Digo, seus pais! -April exclamou dando um gole na sua xícara de café.
- Não. -Vanessa disse decidida. - Se eles me deixaram lá significa que eles não me quiseram.
- Também penso assim. -Gary disse. April exclamou.
- Vocês não vêem filmes?! Tem aqueles romances dramáticos que as mocinhas são esquecidas em um convento ou um orfanato, mas sem o concentimento de suas mães! Nunca viram?! Talvez seus pais tenham sido as vítimas e não vilões! -ela disse.
- Talvez a nossa vida não seja um filme. -Gary disse e ela abaixou a cabeça.
- Mas então, vocês têm algum plano? -ela perguntou.
- Não. A gente quis sair de lá mais pra ter uma vida. -Vanessa disse.
- Ninguém no orfanato St. Paul tem uma vida! A Trudy tira todas as esperanças que qualquer pessoa possa ter! -ele exclamou.
- Trudy? -April perguntou confusa.
- Sim. A coordenadora. Acho que isso tem um pouco a ver com os filmes... Sabe? -Vanessa respondeu. April abriu a boca e pareceu compreender.
- Então Trudy era ruim pra vocês?
- Nossa... Ruim? Não, bem mais. -Gary respondeu.
- E o que ela fazia pra vocês?
Vanessa e Gary se entreolharam.
- Bom... A história ainda não começou... -Gary disse. - Trudy nunca foi uma espécie de mãe pra nós. Nós crescemos ouvindo a voz grave dela ecoar em nossas cabeças dizendo que era melhor viver lá dentro do quê aqui fora, onde não tinhamos ninguém, não tinhamos família...
- A verdade é que quando o número de crianças e jovens aumenta, mais dinheiro o governo dá pro lar. E a Trudy ficava com todo o dinheiro, por que todos os empregados do St. Paul são órfãos! Ou seja, eles crescem e trabalham por lá mesmo, é um ciclo fechado! Apenas uns cinco empregados, os mais antigos como a Sra. Herman ou a Marie, que não cresceram lá. E é isso que a Trudy quer... -Vanessa continuou.
- Mas pelo menos nós percebemos que aquele lugar não era vida pra ninguém. -Gary disse. - Ninguém gosta do lar, todo mundo odeia aquilo!
- E por que eles não vieram com vocês? Por que ninguém sai de lá? -April perguntava.
- Medo. -Vanessa disse.
- Eles não têm coragem de sair e arriscar.
- Arriscar? Mas isso é um absurdo! -a mulher exclamou. - Um absurdo! Mas vocês são estavam em um orfanato? Algum de seus amigos foi adotado?
Gary bufou e Vanessa riu.
- Não. Eles só adotam os menores. Pra quê eles vão querer uns cavalos velhos? Preferem os novos, pra se acostumar com eles desde cedo. -Gary disse.
- Mas vocês já foram menores!
- Sim, mas por infelicidade nossa, ninguém nos adotou. Talvez por nós sermos desobedientes e a Trudy fazer de tudo para que nenhuma criança fosse adotada, assim, ela ficava mais rica. -Vanessa falou. April perdeu o olhar em algum lugar dali.
- A coisa mais próxima de uma família que nós tivemos foram os nossos amigos... -Gary disse.
- Os amigos que nós deixamos lá dentro quando viemos pra cá. -Vanessa lembrou-se de Zac instantaneamente. - E o meu namorado. Bom... -ela riu. - Ex.
April sorriu e olhou pra ela.
- Namorado? Você tinha um namorado? -ela perguntou e Gary disse, vendo o sorriso envergonhado de Vanessa:
- Eu queria saber gostar de alguém do jeito que o Zac gosta dela. -ele falou.
- Zac? É o nome do seu namorado? -April perguntou.
- Ex. -Vanessa deu ênfase.
- Tudo bem; ex. E por que ele não veio com você?
- Por que é um mamão! -Gary exclamou recebendo uma tapa de Vanessa. - Mas é verdade! Ele podia ter a chance da vida dele, com a garota que ele gosta! Não veio por quê? Por quê é um mamão!
April riu.
- A gente não aprende muito sobre o amor e sobre ter sentimentos lá no lar... Elas preferem que a gente cresça assim, com muita frieza. -Vanessa disse. April olhava pra eles encantada. Ela suspirou e pensou que eles realmente estavam sendo sinceros.
- Já que vocês não têm planos... Eu acho que posso colocar o meu dedinho no meio. -ela disse contente. - Talvez vocês possam ficar lá em casa.
Vanessa olhou pra Gary e eles voltaram a olhar a mulher.
- Sério? -ele perguntou.
- Serio! Eu moro sozinha, eu não conheço muitas pessoas, tenho uma casa grande... Acho que ia dar bem pra nós três. E eu tenho uma gráfica... -ela falou. - Vocês podem trabalhar comigo, eu não tenho ninguém pra me ajudar... -April disse sorridente.
Vanessa abraçou Gary eufórica e eles dois pularam em cima de April, que não pôde ficar brava com eles só de ver o sorriso esboçado no rosto deles.
- April, não sei como te agradecer. -Vanessa disse. A mulher segurou as mãos dela.
- Agradeça fazendo tudo isso valer a pena. -ela disse os abraçando novamente. - Agora vamos, vamos pra casa.
Eles levantaram, pagaram a conta e rumaram para a casa que a partir daquele momento, seria deles também.

Nenhum comentário:

Postar um comentário